Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado,
acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack!
de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis.
Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada.
Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha.
Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade.
Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme, livro, quadro.
Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.
Caio Fernando Abreu
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