sábado, 27 de agosto de 2011





As mãos eram bolas de chumbo suspensas nos pulsos. O corpo instável às vezes crescia, como se se derramasse pelo quarto inteiro, para depois diminuir, balão desinflado de gás. Voltava a ser um pequeno corpo humilde, perdido no meio da viscosidade das cobertas. 


No peito, apertava como se quisesse estancar o ritmo do coração, e na garganta implorava para ser transformado em grito. Um grito que quebrasse as paredes, arrebentasse o teto, como um cavalo selvagem.

 


Maurício encolheu-se devagarinho, começou a chorar. Mesmo no escuro, agora não mais as confundia com suor. Reconhecia as lágrimas no gosto de sal deixado na boca, nos lagos finos escorrendo pelo rosto, nos soluços que a garganta espalhava pelo corpo todo. O corpo que tinha-se tornado pequenino, quase sem forma. Quem sabe, assim, não era um feto, apenas um feto, um ser humano em gestação, sem face, sem nome nem nada? Não era. A mente mais lúcida recusava os descaminhos da imaginação. 

Ele abriu os olhos. E acolheu todos os sentimentos, mesmo o medo. Não queria ficar só. 



Havia uma imensa tristeza guardada no fundo daquela voz que chamava por ele. 



Baixou os olhos para o próprio corpo, e teve pena de si próprio também.

Caio Fernando Abreu - Limite Branco

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