sábado, 27 de agosto de 2011




Os olhos da menina se iluminavam. Até a fita azul no cabelo parecia ganhar um brilho novo.




Brotava um cheiro de tempo, muito doce, parecia poeira, mas poeira perfumada, e doce, doce, extremamente doce, tão doce que provocava vertigens, seu corpo por um momento tremia, quase dobrando, quase caindo.


Passamos por uma praça que eu gosto muito. Está bonita, cheia de folhas amareladas caída no chão. Sempre me desvio delas, fico com pena de pisá-la. 


Vivo imaginando que de repente vão aparecer fadas ou gênios na minha frente para perguntar o que eu desejo. Hoje pensei sério: se me perguntassem o que mais desejo na vida, não saberia responder. Quero tudo. Mas esse “tudo” é tão grande, tão vago, que me sinto estonteado.


O que eu queria mesmo era um ombro amigo onde pudesse encostar a cabeça, uma mão passando na minha testa, uma outra mão perdida dentro da minha. O que eu queria era alguém que me recolhesse como um menino desorientado numa noite de tempestade, me colocasse numa cama quente e fofa, me desse um chá de laranjeira e me contasse uma história. Uma história longa sobre um menino só e triste que achou, uma vez, durante uma noite de tempestade, alguém que cuidasse dele. 

Caio Fernando Abreu - Limite Branco



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